sábado, 6 de agosto de 2016

Temer é vaiado ao abrir os Jogos Rio-2016

O presidente da República em exercício, Michel Temer, e o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, assistem a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio-2016, realizada no Estádio do Maracanã - 05/08/2016 (Issei Kato/Reuters)
Imerso em profunda crise política e econômica, o Brasil celebrou a tolerância e a diversidade na abertura dos Jogos Rio-2016 – uma festa que refletiu de fato o “espírito da gambiarra”, definido pelos organizadores como “o talento para fazer algo grande a partir de quase nada”. Mas a tensão no país se fez sentir no Maracanã. Para evitar vaias, o nome do presidente interino Michel Temer não foi anunciado ao lado do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, no início da cerimônia. O peemedebista, contudo, não escapou dos protestos: ao declarar aberta a Olimpíada, Temer foi alvo de sonoras vaias. Falou por menos de 10 segundos. Ao fazer seu discurso, Bach apenas agradeceu às autoridades brasileiras, sem citar Temer nominalmente. A imagem do interino também não apareceu nos telões do Maracanã – tudo parte da estratégia dos organizadores para evitar as manifestações contra Temer.

Antes do início da festa, um grupo chegou a ensaiar um ”fora Temer” das arquibancadas – e outra parcela do estádio vaiou a manifestação. Ao fim doHino Nacional, houve quem gritasse o nome do juiz Sergio Moro, que comanda as ações decorrentes da Operação Lava Jato em Curitiba. Na última sexta-feira, Temer afirmou que estava “preparadíssimo” para ouvir eventuais vaias no Maracanã. Na cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014, a presidente afastada Dilma Rousseff foi alvo de vaias e xingamentos no estádio Itaquerão.

Estiveram presentes à cerimônia 38 chefes de Estado e governo – número muito inferior aos 70 que assistiram a festa londrina em 2012 e aos 80 que estiveram em Pequim em 2008. O presidente americano Barack Obama prestigiou a abertura em Londres ao lado da mulher, Michelle. Desta vez, os Estados Unidos enviaram o secretário de Estado John Kerry.

No começo da tarde, em Copacabana, na Zona Sul da cidade, um protesto contra Temer alterou o trajeto do revezamento da tocha olímpica, que deixou de passar por um trecho da orla e seguiu por ruas internas do bairro. Diversos movimentos de esquerda e centrais sindicais protestaram com faixas e cartazes em português e em inglês, em frente ao Hotel Copacabana Palace. Houve um momento de tensão, quando a manifestação foi impedida de avançar, até que a tocha deixasse Copacabana.

Em São Paulo, houve protesto contra os Jogos na Avenida Paulista. A Polícia Militar paulista reprimiu com cassetetes e spray de pimenta cerca de 200 manifestantes que iniciaram uma caminhada a partir do vão do Masp.

Em meio à tensão no país, a festa no Maracanã deu espaço a causas socioambientais. As favelas foram representadas com um show de ritmos como o samba e o funk, que reuniu as cantoras Elza Soare e Ludmilla. O rapper Marcelo D2 e o cantor Zeca Pagodinho simularam um duelo de ritmos, representando a diversidade da música do Rio de Janeiro. A importância dos negros para a cultura nacional foi celebrada com as rappers Karol Conka e McSofia. Manifestações culturais como o maracatu, os bate-bolas e o bumba-meu-boi também dividiram o espaço no palco do Maracanã e o treme-treme, do Pará, foi representado pela Gang do Eletro. Houve também espaço para um alerta sobre o aquecimento global.

Os protestos não ofuscaram a festa no Maracanã. Nas redes sociais, a beleza da cerimônia provocou manifestações de orgulho cada vez mais raras em um país desiludido. A Copa do Mundo de 2014 teve como grande legado a alegria que tomou conta do país ao longo da competição – e que sobreviveu até mesmo ao 7 a 1 da semifinal contra a Alemanha. Há dois anos o mundo conheceu o soft power brasileiro: o termo é usado na diplomacia para definir a competência de um país para conseguir o que deseja por meio de sua cultura e de sua imagem, de sorrisos e paciência, em oposição a balas e canhões.

Ao discursar, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, apelou a esse poder: “Nunca desistimos, essa é a força do nosso povo. Os filhos do Brasil não fogem à luta”. Foi ovacionado. Pouco depois, foi vaiado ao falar da cooperação entre os três níveis de governo. É o espírito olímpico em tempos de crise política.


Fonte: Veja.com

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